A CHUVA ÁCIDA.
O termo chuva ácida foi empregado
pela primeira vez em 1952 por um cientista inglês, R. A. Smith, em sua
monografia O Ar e a Chuva: O Início da Climatologia Química, a Chuva Ácida. Embora
a chuva ácida formada por substâncias que as chaminés das indústrias e os
escapamentos dos automóveis despejam na atmosfera, tenha surgido,
provavelmente, em meados do século passado, em decorrência da Revolução
Industrial, só há dez anos esse fenômeno começou a inquietar os ecologistas,
para se converter, nos dias de hoje, numa de suas mais obsessivas preocupações.
"Trata-se talvez do mais sério problema ecológico do século",
suspeita o patologista americano Leon Dochinger, do Serviço de Florestas dos
Estados Unidos. Significativamente, nada menos do que quatro simpósios
internacionais, na Europa, foram dedicados ao tema, desde o final de março.*
A precipitação ácida ocorre quando
aumenta a concentração de dióxido de enxofre (SO2), e óxidos de
nitrogênio (NO, NO2, N2O5), que produzem
ácidos quando em contato com a própria água da chuva. Estes compostos são
liberados na combustão de materiais de origem fóssil, como o petróleo e o
carvão. A combustão destes materiais também dá origem a óxidos de carbono (CO e
CO2), pois existe carbono em sua composição, assim como na
composição de outros materiais como o álcool comum (C2H5OH).
As chuvas ácidas transformaram a
superfície do mármore (CaCO3) do Parthenon, em Atenas,em gesso (CaSO4);
macio e sujeito a erosão.
Fotografias das Cariátides, as
ninfas sobre as quais se apoia o templo de Erekteion, na Acrópole, mostram que,
num período de dez anos (1955 a 1965), a chuva ácida destruiu os narizes das
Cariátides e outros detalhes de suas figuras. O mesmo fenômeno é observado no
Taj Mahal, na Índia, e no Coliseu, em Roma.
Mas a chuva ácida não atinge apenas
monumentos de valor incalculável para a humanidade. Em alguns lugares, como nos
países da Escandinávia, ela está matando os peixes dos lagos e rios; em outros,
como na Alemanha, vai rapidamente dizimando as florestas. No sinistro mapa da
devastação, pelo menos um ponto do território brasileiro já está assinalado -
Cubatão, o sufocante polo industrial da Baixada Santista.
Para medir o grau de acidez - o pH -
da água, os técnicos usam uma escala que vai de 0 a 14. Quanto mais baixo o
número, maior o índice de acidez, que avança numa progressão estonteante: o pH
1,0 é dez vezes mais ácido que o pH 2,0, cem vezes mais ácido que o pH 3,0, e
assim por diante. A água destilada, quando rigorosamente pura, tem,
aproximadamente, pH 7,0; a água da chuva, normalmente, tem pH em torno de 5,6.
Em diversos pontos do mundo, no entanto, tem-se registrado precipitações com
índice de acidez próximo de 2,0; como observam os cientistas, é como se nesses
lugares chovesse algo ainda mais ácido que o suco de limão, cujo pH é 2,1. A
maioria dos peixes morre quando o pH dos rios e lagos atinge 4,5.
O Brasil, que, além de menos
industrializado do que a Europa e os Estados Unidos, praticamente não precisa
queimar carvão mineral ou óleo combustível para produzir energia - algo muito
comum, sobretudo na Europa, onde é escassa a energia hidrelétrica - já começa a
exibir números assustadores. No centro de Cubatão, a Companhia de Tecnologia de
Saneamento Ambiental (CETESB), do governo do Estado de São Paulo, detectou, em
1983, índices de pH que iam de 4,7 a 3,7. Os maiores responsáveis por essa
anomalia são os derivados de enxofre, que as chaminés das petroquímicas e
siderúrgicas não cessam de despejar na carregada atmosfera de Cubatão. O
problema não seria tão grave se as indústrias da região passassem a queimar, em
suas caldeiras, óleo com 1% de enxofre - o que se usa hoje tem 5%.
A chuva ácida nem sempre cai onde
foi gerada - tangida pelo vento, pode desabar a grandes distâncias das fontes
poluidoras. Inicialmente, as enormes chaminés, com as quais se pretende evitar
a poluição, contribuem para que isso aconteça, pois lançam a fumaça em
correntes altas de vento. A viagem dos poluentes explica, por exemplo, o fato
de as paradisíacas ilhas Bermudas, a 960 km da costa atlântica dos Estados
Unidos, ou as montanhas amazônicas do sul da Venezuela enfrentarem chuvas tão
ácidas quanto as que tombam sobre os países industrializados.
Alguns guarda-chuvas têm sido abertos
contra essa terrível modalidade de poluição. Em março de 1984, reunidos em
Madri, representantes de nove países europeus e do Canadá acertaram reduzir em
30%, na próxima década, suas emissões de enxofre. Não será tarefa suave, dado o
elevado custo dos equipamentos para combater a chuva ácida. Na França, por
exemplo, onde já são obrigatórios estes dispositivos representam 10% do custo
global das usinas termelétricas, onde estão instalados. Para financiá-los,
quase sempre é indispensável aumentar as tarifas de energia - um risco político
que os governantes relutam em assumir. Alguns casos, porém, comportam soluções
mais baratas. Foi algo assim que fez o governo da Grécia, em janeiro passado: a
área do centro de Atenas, onde os carros só podem trafegar em dias alternados,
foi ampliada de 8 para 67 km2, numa tentativa de dissolver a nuvem negra que
corrói implacavelmente os dois milênios e meio do Parthenon.
TEXTO BASEADO NO ARTIGO : "CHUVAS DA MORTE", publicado na revista Isto é; em 09 de maio de 1984.
QUESTÕES PARA O ENTENDIMENTO DO TEXTO:
1)
Em que época presume-se que tenha surgido
a chuva ácida? A partir de quando ela passou a ser preocupação de cientistas e
ecologistas?
2) Em que condições atmosféricas a chuva
ácida se forma?
3) Qual a origem dos compostos
formadores da chuva ácida?
4) Qual o seu efeito sobre o mármore? E
sobre a natureza?
5) Como os técnicos chamam a escala que
mede o grau de acidez da água? Qual a variação de valores dentro dessa escala?
6) O problema
da chuva ácida existe no Brasil? Qual o maior responsável pelo problema?
7) A chuva
ácida cai sempre na região onde se formam os poluentes?
8) Existe
possibilidade de reduzir a formação de chuva ácida? Que medidas poderiam ser
tomadas para amenizar este problema?
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